domingo, 18 de janeiro de 2009

A vida é feita de legos

Gostava de pensar menos. Pensar é cansativo, desgastante. À pala de pensar demais é que estou sempre com estas dores na cervical e contracturas insuportáveis, a culpa é deles, dos pensamentos. No fundo, a culpa de tudo o que nos acontece é dos pensamentos e dos sentimentos.



O pior é que isto é um ciclo vicioso, e não podemos atirar as culpas para mais ninguém para além de nós próprios! Sim, por exemplo, quando elegemos aquela pessoa como uma grande amiga ou melhor amiga, é porque NÓS pensamos que ela reúne condições para isso, que é espectacular, parecida connosco nas opiniões e perspectivas, que nos dá o ombro quando precisamos e ouve as maiores parvoíces quando queremos desabafar.


Mas somos nós que construímos a pessoa ideal, o amigo ideal, o amor ideal. Será que elas têm mesmo aquelas características que gostamos tanto? Ou o sentimento positivo que nos prende oculta as imperfeições, relativiza os defeitos, esconde as verdadeiras atitudes que não vemos? E depois sentimo-nos desiludidos, coitadinhos de nós, tão ingénuos, incrédulos por não responderem ao telefonema ou à mensagem, por terem sido frios quando em tempos eram incondicionais! Bahh!


E a partir desse momento começamos a ver de outra forma aquela pessoa... "se calhar não é tão perfeita, se calhar eu até vi mal"... Pois é... a "culpa" é só nossa, por criarmos expectativas altas, por esperarmos demais, por acreditarmos só no lado bom e recusarmo-nos a aceitar o "lado lunar". Ou por não conseguirmos perceber que as relações mudam, evoluem ou desevoluem, mesmo que continuemos a considerar aquela pessoa um amigo próximo com quem podemos contar, passamos a representar um amigo distante ou um conhecido.


Mas o que assusta mesmo é percebermos que aquela pessoa foi sempre assim, nós é que não vimos. Construímos a nossa realidade como nos convinha, como quisémos, para que as nossas necessidades fossem satisfeitas. Será que quando vemos os outros, nunca conseguimos entender como são na sua plenitude? É difícil prever o comportamento do outro, adivinhar o que pensam e sentem...


Que vida maluca, onde parece que andamos a brincar aos legos constantemente, a construir imagens dos que nos rodeiam que depois se desmoronam e temos de voltar a construir um modelo mais feio!! Começo a questionar-me se o que vejo dos outros é sempre ficção construída por mim e se é impossível ver a realidade.

Ontem recebi um mail que dizia que "ninguém é perfeito enquanto não te apaixonas". Isto faz-me reforçar a ideia que quando estamos apaixonados, encantados, muito ligados aos outros não nos apercebemos de outras coisas menos boas... não nos apercebemos que afinal até são egoístas, auto-centrados ou pouco humildes.

Talvez por isso as amizades duradouras demonstrem que é nos nossos piores momentos que se vê quem gosta de nós... e que o amor não é efémero como a paixão cega, e integra, aceita e valoriza todas as imperfeições do outro.


Será que vou ter de construir legos relacionais para sempre?

3 comentários:

NI disse...

Como eu te entendo minha querida. Mas a tua última conclusão é mesmo a única certeza.

Beijos

Amor amor disse...

Lindo texto, Jasmim, concordo contigo, nosso pensamentos criam memso uma ilusão de ótica. E só fica mais fácil de aceitar quando nós vemos que alguém está criando uma ilusão sobre nós. Estou contigo, nada como o amor verdadeiro, que é duradouro, e não efêmero.

Beijocas doces cristalizadas!!! ;0*

P.S. Eu já te enviei o convite pra minha Rosa de cristal?

Sandra disse...

concordo quando dizes que nos maus momentos é que sabemos quem são realmente os nossos amigos. acho que a vida é toda feita de legos! mas, se assim não fosse, será que amadurecíamos?!