quinta-feira, 16 de abril de 2009

Carta a Jasmine

Foi-me enviado por um amigo, escrito por um amigo seu que por sinal escreve lindamente. Delicioso. E vem daqui.



"Um mercador do Ocidente disse-me que perguntaste por mim. Na altura senti-me tão feliz que saltitei euforicamente por todos os telhados de Bagdad, como um gorila enlouquecido. Paguei três maravedis por um ramo de margaridas – a flor que já não há no teu jardim - despedi-me do génio e do macaco, e ala para os portões desse palácio onde não posso entrar.


Os aguazis barraram-me a passagem, aqueles filhos de uma cameleira! Nem imaginas o ensejo que me perpassou de desembainhar o meu alfange e cortar a eito as malhas reais que me separam de ti. Mas tamanho desacato valeria mais uma temporada no algoz, e bem sabes que não aguento a jaula.
Ainda me lembro daquela noite de Verão em que cruzámos um primeiro olhar. Espreitava-te por entre arbustos, e tu choravas mágoas e desventuras que nunca compreendi. E foi então que te chamei:
“-Menina dos olhos molhados!” Na altura nem te sabia princesa, eu que andava foragido a um bando de salteadores.
“- Menina dos olhos molhados!!”


E tu olhaste-me com surpresa, e aturdida com o meu desplante. Mas és demasiado refinada para manifestações de desagrado e dedicaste-me um simpático sorriso amarelo. Desde então passei a ver na cintilação húmida do teu olhar o futuro que gostaria de ter, a viagem onde quero para sempre embarcar. Passei a suspirar pela mais inacessível entre as mulheres do sultanado.


Vãos se tornam os sonhos dos desafortunados. Era impossível! Nem com toda a magia do génio, nem com todas as minhas acrobacias poderias voltar a ver-me com olhos molhados. Pertenço a um mundo longínquo do teu, e há distâncias que nem um tapete voador pode percorrer.

Se tu és Sherazade, eu sou Xarriar.
Se tu és Ali Babá, eu sou os quarenta ladrões.
Se tu és princesa… eu sou plebeu.



Linda princesa, linda, linda…

Por ti enfrentava todos os cádis e vizires impolutos. Por ti deixava de frequentar tabernas e mulheres de má vida, e tomava banho todos os meses. Mas nada disto teve valor naquele Outono do nosso afastamento.

Por vezes passo as horas lassas do meu desalento a contemplar o teu palácio, lá ao longe, no cimo dos montes. Os muros engelhados... as torres desveladas… as cúpulas que resplandecem o brilho vacilante dos teus olhos molhados…

Um dia, Jasmine, um dia, havemos de aprender a voar no meu tapete mágico em busca do mundo ideal. Um dia percorreremos os céus e a imensidão que nos rodeia numa viagem feita de ventos, sonhos e canção, em que o limite será a nossa vontade rumo à noite constelada.


Até breve

Aladino"

(escrito por Dados Viciados)

2 comentários:

Amor amor disse...

Lindíssima carta, que embora escrita para a Jasmine, tem tudo a ver com milhares de personagens reais, que não tem a oportunidade de viver um amor bonito porque os mundos impedem, os níveis sociais afastam, que crueldade, que só o próprio Aladin junto com a própria Jasmine pode desfazer...
Fui conferir o blog, muito interessante!
Beijocas doces cristalizadas!!! ;o*

Sadeek disse...

BEIJOOOOOOOOOOOOOOOS