quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Bola de Sabão



Beatriz sentia-se constantemente cansada. Ainda não tinha entrado na "casa dos 30", mas já tinha vivido mais do que desejaria, nos seus 27 anos de idade. Andava desmotivada, sem vontade para nada de especial... mas envolvia-se em cursos, actividades e projectos sem fim, porque tinha imensos interesses e gostava de estar ocupada. Gostava de estar em todo o lado e não estar em lado nenhum... Tinha sempre um sorriso simpático para os outros e adorava observar a interacção dos que a rodeavam... mas detestava ser observada. Bastava-lhe ser observada por si própria, ser analisada minuciosamente com uma auto-crítica implacável, sem dar hipótese a alguém que amenizasse tão duros juízos. Afastava-se, calava-se e reflectia "apenas"... sobre a sua necessidade de se proteger. Sem dar uma hipótese sequer a Alex, o seu paciente namorado que fazia tudo para a fazer feliz. Alex não se sentia cansado... era incansável nos seus esforços para compreender a sua "Bia". Esperava sempre que a sua querida decidisse sair da redoma e que fosse ela própria... Incentivava-a a isso. "As pessoas gostam de ti exactamente como tu és...". "Não me apetece...", respondia ela. "Não me apetece conversar, estar com os nossos amigos e conviver... Deixa-me estar no meu cantinho." "Um dia mascaro-me de bola de sabão invisível... e desato a voar para dentro de mim própria sem ninguém me ver!", completou Bia, parecendo uma menina pequenina, até no tom de voz suave, mas espevitado. "Tontinha... eu não deixo!" - concluiu Alex com um ar carinhoso e comicamente ameaçador - "Rebento a bola de sabão com um sopro, e tu cais no meu colo para sempre!". Ela deu uma gargalhada espontânea, que iluminou o seu rosto de miúda, antes encoberto pelas olheiras do cansaço... Iria precisar da sua bola de sabão, claro, mas isso não a faria sentir-se assim tão leve... Talvez percebesse isso um dia destes.

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