domingo, 28 de outubro de 2007

Castelo de Areia

Quando me consigo abstrair das rotinas diárias, por vezes penso na forma como agimos enquanto seres por quem o tempo passa a um ritmo mais ou menos acelerado, consoante a nossa vontade e necessidade.


Por um lado, temos tendência a viver numa insatisfação constante, a querermos sempre mais e melhor, às vezes mais no plano material (ter um carro melhor, uma casa melhor, roupas melhores, etc) do que no nosso desenvolvimento enquanto pessoas. Por outro lado, também identifico com frequência a tendência à acomodação, ao conforto de não se fazer nada mais para além das obrigações mínimas (em casa, no trabalho, na relação com os outros) e a manter a vidinha de sempre porque já estamos habituados, porque temos medo de mudar, porque temos medo que corra mal, porque se foi sempre bom assim, para quê mudar?


Consigo identificar estas duas facetas em mim própria, naquilo que vivi e quero viver, e encontro-me tantas vezes a ponderar sobre o futuro e o passado, que quase me esqueço do presente.


Utilizando uma expressão muitas vezes usada pelos mais velhos, "se soubesse o que sei hoje" teria feito algumas coisas diferentes no meu passado. Não é que me prenda a isso, não é que me arrependa do que fiz, sinto-me bem com o meu percurso, mas é claro que podia ter feito mais e melhor, gostava de ter "vivido" mais.


Inevitavelmente, isso faz-me pensar no futuro, naquilo que quero fazer, no que me trará satisfação pessoal e profissional, nos meus objectivos de vida... Era tão bom se pudéssemos consultar a bola de cristal do nosso futuro, pelos menos por três vezes... Eu usava um desses cartuchos agora, para saber o que vou saber no futuro, para saber que opções devo tomar, para saber se sigo a intuição ou a razão mais ponderada. Não me quero arrepender do que não fiz.


Enquanto isso, nos últimos tempos tenho vivido o presente em pause ou slow motion, deixando-me levar como uma garrafa perdida em alto mar, com uma mensagem importante no seu interior, na expectativa quanto ao seu destino (deve ser por isso que tenho dormido mais!).

Mas se tenho passado os dias num ritmo mais lento, obedecendo apenas às rotinas, no meu interior sinto os pensamentos a voarem à velocidade da luz (se acham que escrevo muito e ao pormenor, se espreitassem os meus pensamentos assustavam-se!), num turbilhão que me desorganiza e me deixa presa neste limbo entre a vontade de arriscar, de mudar e viver muito mais para além da vidinha, e a necessidade tremenda de estabilizar e sentir que tenho algo de que me posso orgulhar, de viver prosaicamente em família e numa carreira que garante o bem-estar suficiente.

E são tão fortes estes pensamentos que me assolam à cabecinha, que me vejo em dois filmes no futuro, cada um retratando uma dessas vidas... que me parecem incompatíveis.


Porque é que os sonhos de adolescente, ingénuos e utópicos, se desvanecem, se há quem consiga ir para o mundo ajudar quem precisa? Porque é que é não podemos ter a aventura, o trabalho gratificante, as viagens e a casa, os filhos e a relação estável simultaneamente?


Não sei se está na hora de assentar os pezinhos na terra e despedir-me dos castelos de areia ou de subir mais alto...


A verdade é que não temos as sete vidas dos gatos e, como diz uma querida amiga, "só cá andamos cerca de 80 anos..."

12 comentários:

Célia disse...

Revejo-me em muito do que falas. No comodismo, no pensar mais no passado e no futuro do que no presente. Na inssatisfação de não podermos tudo de bom, mas de termos de fazer escolhas... Gostava de te poder dizer qual a solução, mas não sei. Talvez seja mais simples do que podemos imaginar.

Anónimo disse...

Depois dos últimos 'desabafos' diria que estás grávida.

Tulaunia disse...

Também sou um bocadinho assim... Tenho quase 30 anos e não consigo pensar como uma pessoa normal dessa idade. Quero mais, tem milhões de ideias, não quero ser mãe aos trinta nem avô aos cinquenta, quero mais, muito mais.

Jasmim disse...

Anónimo, não estou grávida, não tem mesmo nada a ver, mas relendo os meus "desabafos", percebo a tua "suspeita"... Apesar de muita gente da família estar ansiosa por esse momento, só está nos meus planos daqui a uns tempos (anos)! Portanto as dúvidas não estão relacionadas com isso... ;)

Joon disse...

relativamente à tua pergunta... força!

Hydrargirum disse...

Este teu post, foi uma "pedrada" no "charco" da minha vida...

Jasmim disse...

Hydra, espero que tenha sido uma "pedrada" no bom sentido! :D

Miss Alcor disse...

Tudo o que dizes é a verdade com que me confronto todos os dias.
Há alturas em que simplesmente não dá para pensar positivo. Parece que tudo corre mal, que tudo tem uma rotina, que tudo é igual, e que vamos andar em circulo, sem sair do mesmo lugar.

Também já perdi esses castelos. Neste momento não sei sequer o que vai ser de mim, ou o que vou fazer da minha vida. A única coisa que me faz continuar é a expectativa de que algum dia as coisas vão mudar para melhor. Ou pelo menos para algo diferente.

Crescer não é fácil. Especialmente nos dias que correm. Acho que fomos educados com expectativas altas. E tudo o que seja menos, acaba por nos desmotivar.

Acho que o melhor que tens/temos a fazer, é seguir em frente, um passo atrás do outro, com a convicção que fazemos o que é acertado.
Nunca olhes para trás para pensar que podias ter feito algo diferente.

Sandra disse...

já li este post umas três ou quatro vezes...
acho que já vi isto num dos comentários. crescer custa. às vezes, quando olho para trás, penso como as coisas eram fáceis. e agora nada parece fácil!
acho que não vale a pena ficarmos a pensar nos ses: se isto, se aquilo... desperdício de energias! nada melhor do que acreditarmos que estamos a tomar as decisões mais acertadas!

NI disse...

Querida Jasmim,

Se tens esses pensamentos com a tua idade, imagina os pensamentos de alguém que já ultrapassou a casa dos 40.

É óbvio que temos necessidade, de vez em quando, de parar para pensar. De fazer um balanço da nossa vida.

Não são poucas as vezes que ao reflectir na pessoa que fui e na que sou, me questiono se terá valido a pena algumas opções que fiz. Se não estaria melhor se tivesse tomado outra direcção.

Fui mãe, pela primeira vez, aos 25 anos. Tive a minha segunda filha aos 33 anos. Tenho, pois, uma filha que dentro de um mês fará 18 anos. Não sei se vou ser avó antes dos cinquenta. Estou pouco preocupada com isso. A única coisa que posso afirmar é que sabe bem, à noite, quando ambas estão a dormir olhar para os rostos delas e sentir que fiz, e que faço, o meu melhor.

Poderia, neste momento, estar numa instituição europeia. recusei, na altura, por causa da minha filha mais velha. Por vezes penso se não estaria melhor se, naquela altura, tivesse optado por uma carreira profissional de sucesso.

O que posso dizer é que, apesar da escolha que fiz, não deixo de me sentir realizada profissionalmente. Poderia estar melhor economicamente? Sem dúvida. Mas não teria aquele sorriso traquina quando uma delas faz algo de errado. Não receberia aquela chamada para resolver um dos seus problemas.

Há algo que temos de ter consciência: em termos profissionais ninguém é insubstituível. Mas em termos pessoais, bom, as pessoas desaparecem mas o vazio fica.

Há uma frase que tento, ao máximo, respeitar: "Nunca chores por aquilo que fizeste mas por aquilo que poderias ter feito e deixaste de o fazer".

A verdade, é que "choro" muitas vezes por aquilo que deixei de fazer. Mas, não é menos verdade, a nossa evolução enquanto seres humanos reside precisamente na capacidade que temos de escolher e, acima de tudo, de assumir as nossas próprias decisões, mesmo aquelas que não foram as melhores. Não há qualquer segredo para escolher o melhor. Não há qualquer poção mágica que nos diga qual o melhor caminho. Mas se a nossa vida pudesse ser programada ao milímetro, se o nosso futuro estivesse perfeitamente definido, acredita, a vida seria muito aborrecida.

Assim, e apesar de ser contra os conselhos, apenas te sugeria o seguinte:

Pondera as consequências de uma ou outra decisão. Quando tiveres a certeza de que estás em condições de assumir as consequências, podes ter a certeza de que não te arrependerás da decisão tomada.

Bjs

Jasmim disse...

Obrigada pelas vossas palavras. Apesar de não estar perante uma decisão a ser tomada a curto prazo, a verdade é que às vezes penso nisso, tal como várias pessoas pensam... Sim, não há poções mágicas e apesar de acreditar que devemos tomar uma decisão e olhar em frente, não me importo de olhar para trás de vez em quando para ver o que posso fazer melhor. O tempo irá dar-me uma resposta e o que viver será sempre uma aprendizagem, independentemente de viver em família, com filhos e no meu cantinho em Portugal, ou numa organização humanitária em África, a viajar e a viver outras aventuras.

NI disse...

Ora nem mais.